quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

VIGÉSIMA QUARTA DO BICHO-HOMEM: DA (DÁ?) DISCUSSÃO ACERCA DO SEXO DOS HOMENS E DOS DIREITOS DA MULHER


  

         Não vou dizer que não sei por que o conteúdo deste texto passa pela sexualidade dos homens e pelos direitos da mulher, porque sei muito bem que algum ledor do que escrevo não acreditará nesse clichê, saída em que muitos entram por carência de estilo. Sei mais ainda que nada sabia quanto a chegar a escrever disto, porquanto buscando algum poeminha pra divulgar neste blog, dei de testa-à-tela com alguns. Mas notei que três deles tinham versos que remetiam aos temas citados acima.
Na verdade, como esses poemas estavam gravados em páginas diferentes e um tanto distantes, somente percebi a ligação depois de ler o último deles (Mulherismo em cantigas doutros sítios) e fazer uma conexão de ideias em torno do questionamento que fiz ao ler estes versos do poema Lei do Sexo Complementar: “Artigo último:/ Todo Homem livre é/ para amar (uma?)/ qualquer mulher”. Por que não “universalizar” esse artigo-estrofe do poema, tornando seu conteúdo mais panssexual, ou seja, por que somente a visão heterossexual se há a possibilidade do toda-maneira-de-amor-vale-a-pena? Claríssimo, como já escrevi em outras postagens anteriores, que a minha posição é de homem que ama uma mulher, de modo e conceito particulares. Porisso, eu tinha escrito desse jeito; mas, há algumas linhas, reescrevi o poema assim:

Lei do Sexo Complementar

Artigo último:
Toda maior pessoa livre é
para amar outro ser humano
(se ela puder): homem ou mulher.

Parágrafo triplo:
Ressalvados uns casos,
o Amor de que se-trata,
muito, será bem tratado.

Inciso incisivo:
O que for retrogado
não considerará as
disposições, ao contrário.

Alínea desalinhada:
Aquele que não dispuser de cargo
para desposar os dispositivos desta lei,
deverá ir queixar-se à casa do caralho!


           Não somente para tornar a “Lei” mais abrangente, mas, reescrevi a estrofe, para não desconsiderar os homossexuais, pois conheço muitos deles (incluindo as mulheres de Lesbos), com os quais trabalhei e suportei a colegagem (“É preciso suportar Antônio”, Carlos!) e, com poucos, amizade. O certo é que, como segui a regra nesses casos de sexo, também fui “normal” com minhas amizades: nelas, sempre pesaram a minha opção sexual, mesmo que, para os outros isso possa parecer preconceito. Antes de tudo, é minha preferência que vale!
           Ademais, eu procuro respeitar a todos, desde que seja respeitado. Às vezes, fica difícil, claro, pois nem todos os homossexuais são resolvidos (estou falando das “meninas”). Nisso, há uma grande verdade: homossexuais mal resolvidos são uma calamidade. Pra todos. Não adianta mesmo, neném; no final, todos sabem quem é quem.  Além disso, mesmo que sexo não seja mais um conteúdo bastante polêmico, em se-tratando das “relações naturais”; como nomeava o dramaturgo gaúcho Qorpo-Santo o “papai-mamãe” de cada dia entre homem e mulher; neste novo século, a sexualidade dos homens, a despeito de toda a educação sexual já admitida pela sociedade, é algo ainda bastante desconfortante. A dita sociedade civil organizada (lembra mesmo uma partida de futebol) joga no time que defende a área da heterossexualidade com uma zaga retranqueira e porradeira. Não é à toa que muitos homossexuais (incluam-se as mulheres) procuram casar e ter filhos justamente para justificar sua condição de héteros neste mundinho heterautoritário. Certo, elelas viram papais e mamães; e o errado?
           Erra-se quando se-procura ver a situação com vistas grossas e olhares oblíquos de religiões ou organizações políticas. Essa nova geração de crianças e adolescentes nasceu dentro de um espaço em que os seres humanos começam a pesar os fatos e agir em resposta, pensando no peso do planeta Terra pra nossas vidas. Gentes com juízos um tanto diferentes pela possibilidade que encerram. Temos a oportunidade de ensinar-lhes a cidadania contemporânea do respeito às diferenças. Nada de hipocrisia. Nada de Xuxa querendo calar a Boca do Lixo metendo a mão no Bolso do Luxo. Não. Nada de igrejas querendo discutir o sexo dos homens, que discutam o dos anjos! Nada de políticos homossexuais querendo emendar as leis com censura a seus pares, tendo eles saído à noite anterior com um garoto de programa, sabendo nós que esses parlapatões parlamentares são gays que se-casam pra provar que são Homens com H! Poder de ficção. Mas, por que fazer um papel desses? Por que essa trairagem?
           Respostas tantas, a essas perguntas. Valores que precisamos estar sempre avaliando estão em cena pra serem pesados com a leveza dos humanos direitos. Todos são livres pra amar quem quiser, com ou sem sexo. Mudando de pau pra cacete (com e sem trocadilho): no caso dos héteros, por exemplo, por que pessoas casadas ou acasaladas (sem essa de bobagem de cristianismo ou qualquer Lei civil, estou escrevendo sobre ética!) ainda assediam outras pessoas, se elas podem ser livres? Comodismo? Tara? Negócios de família? Medo?  Quem sabe responde. O sexo é que, nas lutas de classe, de raça e de poder,  os desclassificados opressores dos negócios se-armam dessas taras, extasiados com a possibilidade, dados  a posição, a cor e o cargo que exercem, desejam rasgar a carne da presa, no abate, num apart hotel. Não há nada mais aviltante pras sociedades civil e comercial do que esse tipo asqueroso de gente. Que companhia ilimitada! O assédio é a sevícia do ego pelo sexo. Leiam-no em duas versões da nossa história:


Playboss: a serviço do assédio

As empregadinhas
que se-cuidem,
o sinhozinho  – 
sujo! – já comeu,
na pequena senzala,
todas as escravas;
e o patrãozinho
(tá limpo, cara!),
 aqui, na fábrica,
já “está armado”.

Quem está sendo
cuidada para ser
coitada, de quatro?
Não há câmara nupcial,
minha camarada. Ele diz:
“Não vai doer nada!”
E cuidado: tem de ser
muitíssimo macha para
denunciar essa porrada
na cara da macharada!


           Ainda bem que há muita mulher-macha-sim-senhor. Conheço tantas. Safo de Lesbos, por exemplo, que professora, que poeta, que pessoa! Ego de mona kateudo. Que passado lindo de respeito e consideração. E amor com sexo, sobre tudo. Hoje, podemos querer receber o presente;podemos discutir sem brigar, sem censurar sem censura: Maria da Penha é muitos milhares de mulheres numa identidade só. Haveremos de pensar um melhor consenso. Há de haver tanta Marcha da Diversidade. Muita Lei de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Há tanto que consolidar essa ética sexual nos futuros habitantes das cidades, civitas, civitates
           Contudo, mais atenção, uma macharada: onze mil e trezentas e quarenta mulheres lutaram contra machos machistas e violentos . Quem ganha? A humanidade. Leia, então, a estética, a postura e a luta de uma delas, de um grupo desses:


Mulherismo em cantiga doutros sítios

A Amazona,
nessas tribos, urbana,
fez uma plástica e tanto e res-
suscitou com silicone o seio em branco.

A Amazona,
nessas zonas, franca,
hoje, monta uma moto Honda e
tira uma onda da cara dos bobomens.

A Amazona,
nessas selvas, concreta,
vai encarar o dia em frentes e
lutará contra o homesmo de sempres!


            Que todos possam assumir seu lado sexual sem agir com hipocrisias (da política à religiosa) e que possam agir em nome do caráter educativo e de cidadania apregoado pelas sociedades contemporâneas. Que aqueles que desejam possam ser do sexo que desejam. Que, todos os anos (de todos os tipos, não somente os julianos), essa gente seja feliz. Desejos direitos e deveres. É isso que lhes-desejo.


P.S.: O texto acima não foi escrito pra carapuça de seo ninga e o roso (deixa o Rosa falar por mim) do texto, oqual, dos campos de concentração, foi sublimado às passarelas, foi usado para dar o tom carnavalesco deste trocadilho chulo: a Mangueira entrando... 

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto; parabéns. Sugestão para um próximo: Bullying.